sábado, 4 de junho de 2011

A Água e o Perdão

Certo dia, numa batalha, uma flecha lhe atravessou a
armadura e por pouco não lhe tirou a sua vida.
Num relance, o cavaleiro vislumbra o paraíso, mas bem
longe e, de qualquer maneira, fora de seu alcance.
Vislumbra também o inferno, bem próximo dele e prestes
a engoli-lo, porque há muito tempo se esquecera de suas
promessas de bravo cavaleiro, tornando-se um bruto
impenitente que matava, pilhava, violava.
Tomado de temor salutar, tira a armadura, a espada e as
manoplas de ferro e se dirige ao eremitério de um monge
famoso por sua santidade.
- Meu pai, desejo ser perdoado pelas minhas faltas,
pois temo pela minha salvação.
Farei a penitência que me indicares.
- Pois bem, meu filho, vai simplesmente encher de água
este barrilzinho e traze-mo, responde o monge.
O cavaleiro se irrita com a proposta do eremita, mas
o medo do inferno é mais forte, e ele põe o barril sob
o braço e se dirige ao rio.
Estupefato, vê o barril mergulhado na corrente
recusar-se a encher!
Se dirige a uma fonte que se precipita no curso d’água,
mas o barril continua a não se encher.
Se precipita para o poço da aldeia, mas em vão.
Um ano depois, o velho monge vê chegar à porta de seu
eremitério um pobre maltrapilho em farrapos, de pés
ensangüentados e com um barril vazio debaixo do braço.
- Meu pai, diz o cavaleiro (já que era ele), fui a todos os
rios, fontes e lagos do pais.
Não pude encher vosso barril.
Agora, com certeza, não me perdoareis os pecados.
Ai de mim! Estou perdido pelos meus pecados.
Como me arrependo deles!
E lágrimas lhe descem dos olhos.
Eis que uma lágrima cai no barril.
Num instante, este se enche até em cima, da mais
bela água pura que a terra já viu.
Uma única lágrima de arrependimento

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