sexta-feira, 23 de julho de 2010

FOTOS DE CAMILA


Amar a si mesmo é um requisito fundamental para que o ser humano possa vivenciar a felicidade. Embora tenhamos aprendido que a auto-estima é individualista e egoísta, ela é essencial para que possamos nos expor ao mundo com coragem e confiança.

Aquele que não ama a si próprio, não reconhece em si qualidades e talentos e se acha inferior ao resto do mundo, dificilmente conseguirá amar verdadeiramente o outro, pois seu amor será sempre revestido de medo.

Quando não nos amamos, tememos que o outro descubra que não somos bons o suficiente para merecer seu amor e nos empenhamos desesperadamente em satisfazer os seus desejos, como forma de garantir a afeição que ele sente por nós.

Esta consciência só nasce a partir de uma profunda reflexão acerca de nossas qualidades e defeitos e do entendimento de que somos únicos e especiais, não importa o quanto tenhamos errado ou nos desviado da Verdade.

Sempre é tempo de recuperamos a nossa auto-estima se reconhecermos que os erros são fundamentais em nosso processo evolutivo. Se formos capazes de nos amar apesar de nossos fracassos, certamente estaremos nos dando a oportunidade de trilhar novos caminhos e descobrir em nós poderes até então desconhecidos.

RODRIGO FARO

MICHAEL JACKSON

Perguntam-me se não vou escrever nada sobre a morte de Michael Jackson. Música pop não é exatamente a praia em que ando com mais desenvoltura. Até onde acompanhava, esse rapaz teve a sua fase de ouro. Era, no gênero, talentoso, criativo, ousado. Mas é possível que tenha se deixado trair pelo mais perigoso de todos os demônios da legião que nos tenta todas as horas do dia: aquele que nos sopra aos ouvidos que nossas qualidades derivam de nossos defeitos; sem estes, não teríamos aquelas. É uma das farsas grotescas do diabo. Os defeitos, é claro, são só o que nos atrapalha.

A partir de um momento de sua trajetória, Jackson parecia mais livre do que todos nós, a tal ponto que resolveu recriar a própria imagem. Pensem um pouco. É o espelho que, no dia a dia, recolhe os nossos cacos e os cola numa inteireza: “Este é você”, ele nos diz. Olhando-nos, podemos ver a nossa própria consciência, as dores que só nos conhecemos, os medos que não confessamos. Está tudo lá. Diante de nossa própria figura, na solidão, o coração pode, então, como num soneto antigo, estampar-se no rosto. Não há plástica ou cosmética que possam nos livrar de nós mesmos.

Refugiado em Neverland, Jackson quis ser “Outro”, dissociando o que ele realmente era daquele que ele via. O que o espelho nos mostra de mais importante não são, pois, nossas rugas, nossos cabelos brancos, nossos quilos a mais ou a menos. Dia após dia, ele resume a nossa vida. Vemos, parafraseando Drummond, o queixo de nosso pai no nosso queixo; marcas da família desenhando nossa idade madura e nos acenando com a velhice — vislumbramos o nosso queixo no queixo de nossos filhos: sobreviveremos. Justificamo-nos, enfim, diante dele, tentando, à saída, uma última conciliação: quem sabe ele nos perdoe e nos diga um “Siga adiante”. E ele costuma dizer. E só por isso tocamos o barco.

Como era com Jackson? Pouco importa a causa imediata de sua morte, o que se viu foi um dos suicídios mais lentos do showbiz, área em que ou se desaparece muito cedo, como a evocar a máxima de que “morre cedo o que os deuses amam”, ou se entra em decadência, com o esquecimento e a irrelevância cortejando a estrela. Ele ainda tentava mudar a escrita do destino, buscando um renascimento com shows na Inglaterra. Não houve tempo. Os deuses roubam quando dão. E o mais perverso de todos os novos deuses olímpicos é a fama. Jackson foi eliminando progressivamente a memória de si mesmo, ficando sem passado. E, à medida que mergulhava sabe-se lá em que doença do espírito, tinha menos o que dizer para o futuro. O garoto genial (para o gênero ao menos) de Thriller era uma carcaça. Jackson, morto em vida, estava oco de si mesmo. Aquele do espelho não era ele, mas também não era ninguém. De fato, havia morrido fazia tempo. Seu sofrimento não deve ter sido pequeno.

Algo em nós se perde quando se vão os ídolos de uma época, ainda que não nos dissessem grande coisa. Farrah Fawcett — convenham: era a única “Pantera” com a qual realmente nos importávamos, ao menos os garotos — também morreu nesta quinta. A figura, antes exuberante, lutava contra um câncer e estava afastada do mundo das celebridades. Por que de algum modo isso nos comove ou, ao menos nos constrange, trazendo-nos desconforto?

Porque eram do nosso tempo, e sabemos que as três Parcas que zelaram pelo destino deles também zelam pelo nosso. Não param de fiar. Dia e noite. Noite e dia. Lá está Cloto, fazendo girar o fio do destino dos homens, cuidando de uma roca que desce do céu. Com as vestes semeadas de estrelas, Láquesis põe o fio no fuso, até que chega Átropos, com sua vestimenta negra, e pimba! Corta-o. Inapelavelmente. Alguns intérpretes da Mitologia Grega as querem filhas da Necessidade e do Destino. E têm a idade da Noite, do Céu e da Terra. Para sempre.

TESTE DE VELOCÍDADE

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