quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Origem da Família Imperial Brasileira

A Família Imperial Brasileira tem origem no casamento de D. Pedro I com a Arquiduquesa Leopoldina, em 1817. Como todos os outros da época, o matrimônio fora arranjado para atender a interesses político-diplomáticos - oriundos do Congresso de Viena - e para dar continuidade à tradição de união consangüínea entre nobres. As negociações foram feitas por Rodrigo Navarro de Andrada e o casamento de D. Pedro I foi formalizado pelo então Marquês de Marialva, Pedro Joaquim Vitor de Menezes Coutinho, tendo se dado por procuração no dia 13 de maio de 1817. Mas somente no dia 06 de novembro daquele ano que Leopoldina viria a conhecer o noivo, seu desembarque no Brasil foi registrado por Debret em linda tela. Desposaram as núpcias no mesmo dia.
Arquiduquesa Leopoldina
Leopoldina era filha do Imperador Francisco I, da Áustria, e sua irmã Maria Luisa era a segunda esposa de Napoleão Bonaparte, o responsável pela vinda da Família Real Portuguesa para o Brasil, acompanhada de cerca de 15 mil nobres. A Casa dos Habsburgo, ao qual ela pertencia antes de se casar, tem origem muito antiga e foi fundada na Suíça por Werner II. Contaria quase mil anos atualmente, mas foi extinta durante a reconfiguração do mapa da Europa após a Primeira Guerra Mundial. Durante muito tempo os Habsburgo comandaram o Império Sacro Romano e a frente dele fizeram inúmeras conquistas, destacando Leopoldo II, que acabou com a Inquisição, as torturas e eliminou a pena de morte. Francisco II, pai de Leopoldina, conseguiu tirar a Áustria das dificuldades econômicas causadas pela guerra contra a França e elevou seu império à primeira potência européia após o Congresso de Viena, pondo um fim na era napoleônica. O último Imperador da Áustria foi Carlos I, seu governo durou apenas dois anos pois a derrota do imponente exército Austro-Húngaro na I Guerra o fez perder a nobreza e os Habsburgo passaram a ser simples cidadãos.
D. Pedro I
Filho de D. João VI e Carlota Joaquina, Pedro I pertence a uma família bem mais antiga. A linhagem dos nobres portugueses começa na Casa de Avís, no século VIII e prossegue com a Casa de Bragança após um domínio espanhol de 60 anos sobre os Avís. O primeiro rei da dinastia dos Bragança é João IV, responsável pelo fim da dominação imposta pelos Filipes de Espanha e por isso ficou conhecido como O Restaurador. Depois vieram Afonso IV, Pedro II, João V, Dom José, Maria I e, por fim, após declarada sua loucura, o governo português passa às mãos de João VI. Nesta época a Família Real Portuguesa já estava no Brasil, fugindo das perseguições de Napoleão, e a América assiste a primeira coroação de um rei. Europeu, é verdade. Obrigado pelas Cortes Portuguesas a voltar para Lisboa em idos de 1821, D. João deixa o Brasil sob o comando de seu filho Pedro. Assim, proclamada a Independência em 1822, dá-se início com o Imperador Pedro I e com a Imperatriz Leopoldina a família imperial brasileira.

Deste casamento nasceram nove filhos, sendo dois natimortos. A primogênita Maria da Glória foi declarada sucessora do trono português com a morte do avô e a renúncia de seu pai. Passou a ser efetivamente a Rainha de Portugal, Maria II, com a morte do pai, Pedro IV (e Pedro I no Brasil). Pedro II - título adquirido após a abdicação do trono brasileiro em 1831 - era o filho mais novo de Leopoldina, falecida em 1826. Porém, D. Pedro I teve diversos filhos naturais, com muitas mulheres, como a bailarina francesa Noemi Thierry e com Domitília, a marquesa de Santos, com quem teve cinco filhos. Após seu segundo casamento, com Amélia de Leuchtenberg, teve ainda mais uma filha legítima, Maria Amélia.
Pedro II, Teresa Cristina e as filhas Isabel e Leopoldina - A Família Imperial Brasileira. Obra do acervo do Museu Imperial de Petróplis, RJ
No Brasil, os descendentes de Pedro II, devido ao fato de ter permanecido aqui por quase toda a vida, são os mais conhecidos e até hoje tratados por príncipes e princesas, títulos que perderam o valor com a Proclamação da República. O segundo Imperador assumiu o trono aos quinze anos e aos dezoito casou-se com Tereza Maria Cristina de Bourbon, princesa real das Duas Sicílias. O contrato de casamento foi assinado em 20 de maio de 1842, mas Teresa só chega ao Brasil mais de um ano depois, em setembro de 1843. Pedro havia visto a noiva apenas em um retrato de meio corpo e não se entusiasmou ao conhecê-la pessoalmente. Educado por tutores, desde muito criança longe do afeto dos pais, tornara-se um homem dedicado apenas naquilo para o qual havia sido preparado, ser um governante. Do casamento nasceram Afonso, Isabel, Leopoldina e Pedro Afonso.

Isabel Cristina foi a que mais fez história no Brasil. Casada com o Conde D'Eu (Luis Felipe Maria Fernando Gastão de Orleans), neto de Luis Filipe, rei de França, assumiu o trono brasileiro por três vezes em ausência do pai, oportunidades em que assinou a Lei do Ventre Livre e a Lei Áurea. Com a Proclamação da República em 1888, a família foi mandada ao exílio, em Portugal e teve os bens confiscados no Brasil, dentre eles, o Palácio Guanabara. Um ano depois falecia a Imperatriz Teresa Cristina, e em 1891, Pedro II. Em 1921, o Conde D'Eu retorna ao Brasil para trazer os restos mortais do casal de ex-imperadores para serem depositados numa capela construída especialmente para isso em Petrópolis. Poucos meses depois a Princesa Isabel, acometida de grave enfermidade, viria a falecer. Ela tivera três filhos, Pedro de Alcântara, Luis Filipe e Antônio Gastão. O Conde D'Eu morreu no ano seguinte, 1922, em viagem ao Brasil para as comemorações do centenário na Independência.

Somente após 32 anos de exílio imposto pelos militares que tomaram o poder na República é que os descendentes de Pedro II, os Orleans e Bragança, puderam voltar ao Brasil. A casa de verão da família, hoje Museu Imperial de Petrópolis, foi comprada pelo governo Getúlio Vargas. A fazenda Córrego Seco era o maior bem de Pedro II, local onde hoje se situa a cidade de Petrópolis, ainda rende aos bisnetos e tataranetos a enfiteuse, um imposto pago sobre a utilização das terras. Dos membros da família imperial, o mais famoso e atuante politicamente é o Príncipe João de Orleans e Bragança, bisneto da Princesa Isabel, que defendeu a possibilidade da volta à monarquia no plebiscito de 1993.


Entre Vassouras e Petrópolis
Os dois principais ramos da Família Real brasileira na atualidade são:
- o de Petrópolis, formado por descendentes de D. Pedro de Alcântara, filho mais velho da princesa Isabel, que renunciou à herança do título por ter se casado com uma condessa que não tinha sangue real — essa renúncia se estende até hoje a todos os descendentes;
- o de Vassouras, que tem sua origem em D. Luis Maria Filipe, o segundo filho, que manteve o título.


Do ramo de Petrópolis, o mestre, até pouco tempo, era D. Pedro Gastão, que faleceu com 94 anos em dezembro de 2007. Durante certo tempo, ele chegou a questionar a renúncia do trono feita por Pedro de Alcântara, tentando assim, reaver a condição de herdeiro, mas a luta não deu em nada. A questão foi levantada novamente durante o plebiscito de 1993, mas, como o próprio plebiscito não resultou em nada, ficou por isso mesmo. Hoje, o ramo de Petrópolis é representado, principalmente, por empresários e artistas, que estão, em sua maioria, bem inseridos no contexto social, político e econômico atual brasileiro, uma das razões pelas quais não se preocupam mais com questões como herança de trono ou volta da monarquia.
A figura mais popular desse ramo da família é o príncipe D. João Henrique de Orleans e Bragança, nascido em 1954. Ele é dono da famosa Pousada do Príncipe, em Parati, além de fotógrafo de talento reconhecido internacionalmente. Quando jovem, ele foi apelidado pela imprensa de D. Joãozinho, nome associado principalmente ao seu hobby favorito — o surfe. O apelido inocente esconde, no entanto, um homem engajado, de opiniões fortes (que podem ser identificadas, de certa forma, como de centro-esquerda), fato pelo qual é constantemente notícia. Casado com Stella Cristina Lutterbach, D. João tem dois filhos, entre os quais está Maria Cristina, que é atualmente a única princesa do mundo portadora da síndrome de Down. Após o nascimento dela, D. João e dona Stella tornaram-se grandes porta-vozes da luta por melhores condições para quem tem a síndrome. Ela, por exemplo, é presidente da Federação das Associações de Síndrome de Down.
O ramo de Petrópolis possui hoje uma convivência pacífica com o de Vassouras, que tem como líder D. Luiz de Orleans e Bragança (citado no início desta reportagem). Ele e seu irmão D. Bertrand são os principais defensores da volta da monarquia ao Brasil. Se o país tivesse mantido a forma de governo monárquica até hoje, D. Luiz seria o imperador, e D. Bertrand o herdeiro direto dele. Eles são filhos de D. Pedro Henrique (falecido em 1981), que por sua vez é o filho mais velho de D. Luis Maria Filipe.
Esse outro lado da família tem suas bases no interior do Paraná, na cidade de Jacarezinho. Foi lá que D. Pedro Henrique passou alguns anos como agricultor, conduzindo a fazenda Santa Maria, antes de se mudar para Vassouras.
Mas D. Luiz, o imperador, vive mesmo em São Paulo, onde fica a Casa Imperial do Brasil, dirigida por ele. Suas posições políticas são conhecidas por serem bastante conservadoras. No site da Casa Imperial, o “imperador virtual” é definido como “católico fervoroso”, que luta pela “defesa da prática firme dos valores morais da Cristandade”. Esse fervor católico é reforçado pela sua ligação com a Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade, conhecida como TFP. Quer dizer, até 2004. Isso porque D. Bertrand, seu irmão, lidera hoje uma dissidência da TFP, ainda mais conservadora que a organização original.
São idéias totalmente contrárias às da maioria dos membros do ramo de Petrópolis. Aliás, os dois ramos não discordam apenas em questões políticas, mas também quanto à história da própria família, como explica o historiador Estevão Martins, professor de História Contemporânea da Universidade de Brasília e especialista em assuntos relacionados à realeza brasileira na atualidade. “Só para dar um exemplo: o ramo de Vassouras, ao contrário do outro, hipervaloriza o papel da princesa Isabel na abolição da escravatura, colocando-a como agente quase que exclusivo desse processo. Hoje, sabe-se que houve diversas variáveis envolvidas, principalmente os movimentos populares e a atuação de personalidades formadoras de opinião da época.”